Stand-Up Comediante
Um amigo meu, certa vez, ligou pra namorada e avisou: “te arruma que hoje a gente vai jantar fora”. Ela se maquiou, botou um vestido lindo, salto alto de bico fino. O cara foi buscar a moça em casa trajando bermuda e sandália – o jantar fora nada mais era do que um dogão ali nas áreas. Se alguém te convida para um teatro e vocês acabam numa apresentação de stand-up, é basicamente a mesma falha na comunicação.
Em todos os meus anos vivenciando essa indústria fundamental, pude perceber que os comediantes de stand-up gostam muito de agir como se fossem de outro mundo. Começam seus espetáculos afirmando não entenderem como as coisas mais simples funcionam. “Não entendo relacionamentos.” “Não entendo a vida no escritório.” Não se iludam, por favor. Eles não vieram da Bulgária, apenas assistiram a muito Seinfeld.
De certa forma, acho que isso também está ligado ao fato desses comediantes brasileiros serem, em sua maioria, publicitários. Tava falando sobre isso na agência, dia desses. Daí vem o papo de “não entendo porque a gente abaixa o volume do carro pra procurar o número de uma casa”. Entenderia, talvez, se tivesse feito uma faculdade decente.
Vocês sabem que São Paulo lançou uma nova lei que só permite fumar em lugar fechado se você estiver atuando, em cima de um palco. Imagino a horda de fumantes engraçados que está para surgir. Pelo menos as piadas sobre o Sarney serão substituídas pelas piadas sobre José Serra. E o melhor de tudo é que ninguém vai vislumbrar uma carreira longa para esse tipo de aventureiro – menos pela falta de preparo e talento, mais pelo câncer de pulmão.
O stand-up virou um filão não só para viciados em nicotina e publicitários cheios de pequenas verdades cotidianas prontas para serem destiladas. O ramo também encanta celebridades de porte tímido, pessoas cujo sucesso sempre necessita ser medido com um referencial. E dá-lhe apresentações históricas de Otávio Mesquita, Serginho Mallandro, e até o Seu Pitolomeu da Escolinha do Professor Raimundo. O que eles tem em comum? São todos velhos e feios demais para garantir um extra em bailes de debutantes – restam os teatros e os bares.
E o enredo de um stand-up padrão não difere muito da conversa de elevador. Trânsito, clima, política. O cara puxa o assunto do Senado, começa a mandar a piada do dia sobre o bigode do Sarney, e é nesse momento que você percebe que o elevador é muito melhor que o show dele: ali, o teu andar não vai chegar nunca, meu amigo. Você não vai poder fingir que trabalha no segundo e subir pelas escadas até o décimo primeiro. Vai ficar ali, com os ouvidos sangrando, até o fim.
Aliás, além do ouvido, teus olhos também vão sofrer. O que acontece com esses grupos de comédia, que precisam usar sempre camisetas estilo gincana de colégio? Chegam com aquela camiseta azul-marinho e um “LOUCOMÉDIAS” escrito em amarelo no peito. E, aproveitando que é amarelo, os ‘Os’ ainda são substituídos por smiles. Bem criativo – não te esquece, eles quase sempre são publicitários. No momento em que tu bate o olho naquilo, já imagina o que vem a seguir. Vão começar a apresentação não entendendo alguma coisa, ou não aguentando mais uma porção de outras coisas.
E tu ali, sem entender o que tá fazendo naquela joça, e tampouco aguentando lidar com a situação. É como eu estou me sentindo nesse exato momento, pelo menos. O que a gente não faz pra poder fumar um Derby.